Saiu uma pesquisa que ajuda a
esclarecer uma questão angustiante da maternidade: mandar os filhos ainda
pequenos para a escola pode ser uma má decisão? O estudo chega a duas
conclusões sobre o assunto. A primeira serve de alerta aos pais que optam por
deixar os filhos longe das classes de jardim de infância - e é um alívio para
as mães que trabalham fora: ingressar cedo na escola não só não é prejudicial
às crianças como costuma ter consequências positivas no aprendizado a longo
prazo. Não é a primeira vez que um trabalho acadêmico descortina os efeitos
benéficos da escola nos primeiros anos de vida.
O mérito do atual estudo foi
ter demonstrado isso por meio do mais detalhado banco de dados já produzido
sobre o assunto. Patrocinados pelo governo americano, os pesquisadores
monitoraram 1 300 crianças, da maternidade aos 12 anos, a cada quatro meses. A
metade delas ficou em casa até os 5 anos, entregue aos cuidados da mãe ou de
uma babá, enquanto a outra parte frequentou a escola. Até a chegada da
pré-adolescência, os dois grupos foram submetidos a provas para medir o
desempenho escolar. Resultado: os estudantes enviados ao jardim de infância
antes do ensino fundamental se saíram melhor em todas as disciplinas testadas.
Resume o psicólogo James Griffin, um dos autores do trabalho: "Está claro
que ir à escola no princípio da vida faz parte de um conjunto de fatores que
definem o sucesso nos estudos".
O segundo dado valioso da
pesquisa joga luz sobre outra dúvida comum aos pais: a melhor idade, afinal,
para matricular os filhos. Muitas famílias protelam essa decisão até as
vésperas do ensino fundamental, por volta dos 6, 7 anos. O trabalho revelou, no
entanto, que é a partir dos 3 anos que a escola passa a ser mais proveitosa.
Antes disso, o que mais pesa em favor do desenvolvimento intelectual das
crianças são o afeto e a atenção individual - não importando se vêm de casa ou
da creche. Depois dessa fase, estar num ambiente com outros adultos e crianças
funcionam como alavanca ao aprendizado - e isso repercute ao longo do restante
da vida escolar. Eis um exemplo extraído da pesquisa americana: aos 12 anos, os
estudantes que haviam frequentado a pré-escola apresentavam vocabulário mais
rico do que o restante da turma. Uma das explicações, defendida por esses e
outros especialistas, é que, ao se limitar ao contato com a mãe ou babá, a
criança toma familiaridade com um único jeito de se expressar e tende a se
concentrar no vocabulário mais empregado em casa. "A escola, por sua vez,
a expõe à diversidade", afirma Griffin.
O que resta aos pesquisadores
compreender melhor são as consequências do ingresso na escola para o
desenvolvimento emocional. Nesse campo, está claro que uma passagem pelo jardim
de infância favorece a autonomia e antecipa o aprendizado sobre a convivência
em grupo. Outro fato comum às crianças matriculadas na escola antes dos 5 anos
chamou atenção no estudo americano: aos 12, elas são mais agressivas em sala de
aula do que os colegas, de acordo com a avaliação feita pelos professores com
base num conjunto objetivo de questões. A observação sistemática dessas
crianças em seus primeiros anos de vida sugere que, na escola, elas se lançam
mais cedo à luta por atenção do que aquelas que ficaram entregues aos cuidados
maternos (mesmo quando há irmãos em casa). É uma hipótese a ser investigada.
O que os especialistas já sabem
- e o novo estudo confirma por meio de uma fartura de dados qualitativos - é
que o cenário mais favorável ao desenvolvimento pleno das crianças, dos 3 anos
em diante, combina dois fatores de pesos semelhantes: um ambiente familiar rico
em estímulos e uma boa escola. Conclui o psicólogo Jay Belsky, um dos autores
do trabalho: "Os melhores resultados escolares se dão quando a família é
parte ativa na educação".
Criadas em casa
O número de crianças fora da
pré-escola é ainda alto em vários países -inclusive no Brasil. Na maioria das
vezes, essa é uma escolha dos pais
PORCENTUAL DE CRIANÇAS QUE NÃO
FREQÜENTAM A PRÉ-ESCOLA
INGLATERRA - 23%
INGLATERRA - 23%
CANADÁ - 35%
ESTADOS UNIDOS - 40%
BRASIL - 45%
CHILE - 50%
CHINA - 64%
Fonte: UNESCO.
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