As crianças precisam de
habilidades fonológicas para equipar seu léxico durante o segundo estágio de
aprendizagem de leitura. Se elas não tiverem estas habilidades, a leitura
automática não pode ser desenvolvida; é o que acontece com os disléxicos, eles
não têm habilidades fonológicas que equipam o seu léxico.
Segundo SELIKOWITZ (2001, p.
52), a área mais comum de dificuldade é a segmentação de fonemas, o processo
pelo qual uma palavra não familiar é quebrada pelo cérebro em seus sons
competentes. Crianças disléxicas têm problemas ao desvendar os códigos, para
converter os grafemas nos fonemas correspondentes no cérebro. É difícil para as
crianças disléxicas progredirem através do estágio fonológico de leitura e
eventualmente tornarem-se leitoras automáticas. Elas podem compensar sua
dificuldade fonológica tentando desenvolver técnicas de reconhecimento visual,
mas estas não são geralmente suficientes para uma leitura eficiente.
Frequentemente, tais crianças
têm também um déficit na memória verbal, uma dificuldade de lembrar palavras
que acabam de ler, isto pode aumentar mais o seu problema.
Embora a maioria dos estudos
recentes mostre que o déficit do processamento fonológico é a causa mais comum
de dificuldades específicas de leitura, nem todas as crianças com esta condição
têm este problema específico. Algumas crianças têm dificuldade na maneira como
o cérebro percebe as formas das letras, um déficit de percepção visual. Os
cérebros destas crianças "não são bons" em reconhecer ou interpretar
as formas das letras, isto pode acontecer porque as crianças com dificuldade
específica de leitura frequentemente confundem letras com "b" e
"d". Algumas crianças agregaram a dificuldade fonológica à dificuldade
da percepção visual.
Crianças com déficits
fonológicos têm maiores probabilidades a erros fonéticos na ortografia,
enquanto crianças com problemas de percepção visual são mais prováveis de
cometerem erros visuais (SELIKOWITZ, 2001, p.53).
No plano da linguagem, os
disléxicos fazem confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças
sutis de grafia, como "a–o", "e-d", "h-n" e
"e-d", por exemplo. As crianças disléxicas apresentam uma caligrafia
muito defeituosa, verificando-se irregularidade do desenho das letras,
denotando, assim, perda de concentração e de fluidez de raciocínio, de acordo
com MARTINS (2004).
As crianças disléxicas
apresentam confusão com letras com grafia similar, mas com diferentes
orientações no espaço, como: "b-d", "d-p", "b-q",
"d-b", "d-p", "d-q", "n-u" e
"a-e". A dificuldade pode ser ainda para letras que possuem um ponto
de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos: "d-t" e
"c-q", por exemplo. Pais e educadores precisam ficar atentos para
inversões de sílabas e palavras como "som-mos", "sol-los"
bem como a adição ou omissão de sons como "casa-casaco", repetição de
sílabas, salto de linhas e soletração defeituosa de palavras. Ainda pode-se
caracterizar a criança disléxica da seguinte forma: inventa palavras ao ler o
texto, utiliza estratégias e truques para não ler, distrai-se com bastante
facilidade perante qualquer estímulo, parecendo que está a "sonhar
acordado", tem melhores resultados nas avaliações orais do que nas
escritas, não se interessa por livros e apresentam dificuldade de copiar textos
da lousa ou de livros.
Numa primeira etapa da
aprendizagem, algumas crianças podem apresentar estas características, e esses são
considerados erros normais dentro do processo de aprendizagem. Crianças com
expressivas dificuldades de leitura não são necessariamente disléxicas, mas
todas as crianças disléxicas têm um sério distúrbio de leitura (MARTINS, 2004).