Nos dias atuais é
comum ouvir as expressões "alfabetização" e "letramento" no
meio acadêmico para se referir ao processo de aprendizagem da língua escrita. Alfabetização
no sentido de se aprender a técnica da escrita em si e letramento para se
referir a aquisição de competências para fazer uso de práticas sociais de
escrita, focalizando os aspectos socioculturais de uma sociedade.
Num sentido mais
amplo, letramento é um processo que vai muito além da aquisição das ferramentas
da escrita, exigindo uma compreensão das práticas sociais de escrita no
contexto do aluno. A ampliação do conceito nos traz um salto qualitativo na
forma de aprender a "escrever", visto que a técnica não mais é
colocada no centro da aprendizagem, mas o uso social da escrita dentro de
contextos específicos.
Ao permitir que o
sujeito interprete, divirta-se, seduza, sistematize confronte, induza, documente,
informe, oriente-se, reivindique, e garanta a sua memória, o efetivo uso da
escrita garante-lhe uma condição diferenciada na sua relação com o mundo, um
estado não necessariamente conquistado por aquele que apenas domina o código
(Soares, 1998).
Obviamente, a
técnica é necessária, porém o fundamental é que o sujeito compreenda que sua
relação com o mundo escrito vai muito além da decifração de códigos. Seu
vínculo afetivo com as práticas sociais de escrita colabora para o efetivo
exercício de sua individualidade dentro de uma sociedade. Enquanto a técnica de
escrita pode levar um curto tempo para se aprender, o letramento se faz no
decorrer de uma vida, visto que o ser humano aprende o tempo todo e as práticas
sociais vão se diversificando. O letramento não é igual para todos, pois está vinculada
a formação ética e estética do aluno. Sua competência de fazer uso de práticas
sociais vai sendo ampliada na medida em que acumula experiências e constrói
conhecimentos. Suas necessidades são colocadas em foco e todas as ferramentas
que aprendeu durante sua vida são utilizadas para resolver situações de seu
contexto.
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