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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO A PARTIR DE UM PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO



                        1. MARCOS TEÓRICO-CIENTÍFICOS QUE DEVERÃO NORTEAR O PROJETO

            Ao falarmos em  PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO  A PARTIR DE UM  PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO, deve-se ter em mente o que se entende por; projeto? (plano, intento, desígnio. Lançar à diante) .Neste caso, referindo-se a educação, no nosso entendimento, seria a visão antecedente do  desenvolvimento do   processo ensino aprendizagem, que se quer ministrar.               O que se entende por político? São  várias as concepções e divergências sobre a concepção do que seja política.Dependendo da especificidade e natureza do campo em que o termo é empregado ele toma diversos sentidos. Na acepção popular, sempre se refere ao sentido vulgar, englobando a vida coletiva das organizações políticas: eleições, partidos, atividades dos órgãos governamentais e dos órgãos individuais sobre determinados aspectos. No sentido verdadeiro trata-se da atitude e orientação do   governo em relação a certos assuntos. Como exemplo: política financeira, política do café, política agrícola, política da educação, etc.. Conjunto de processos, métodos, expedientes e ardis para conseguir , conservar e exercer o poder.” Machiavel (1469-1527). “Política é a arte de governar”.Bluntschli, (!900). Para os cientistas e estudiosos contemporâneos juristas e sociólogos seria o conhecimento sistemático dos fenômenos políticos, isto é, do Estado como fato político, que engloba os demais fatos políticos. Nesta compreensão, o Estado no mundo hodierno exerce influências sobre o homem e todos os fatos ocorridos, de modo que nenhum  acontecimento deixa de sofrer a influência política. “Em um mundo, onde o coeficiente político influi sobre todas atividades humanas, a ciência política não tem praticamente outros limites senão os que lhe impõem as insuficiências da inteligência humana ante a totalidade dos problemas da vida social”. Burdeau-Trité de Science Polítique, vol.. I, avant propos. (in ed. Globo 1961). Referindo-se a educação, Bernard Charlot em seu livro A Mistificação Pedagógica, dedica um capítulo , onde procura abordar e afirmar: que a educação é política e política é educação. Ele  diz textualmente:” Dizer da educação, ou da escola ,ou dos programas ou do controle pedagógico, etc..que são políticos não é, ainda, dizer grande coisa. Tudo é política, pois a política constitui uma certa forma de totalização do conjunto das experiências vividas numa sociedade determinada. Eleições, uma greve, a aposta em corrida de cavalos, a seca, um jogo de futebol, uma bofetada, etc..todos esses acontecimentos têm uma significação política. Mas eles não são políticos da mesma maneira. Alguns são políticos por definição: as eleições, por exemplo. Outros são políticos, enquanto são conseqüências da organização econômica, social e política da sociedade; uma greve por exemplo, é, antes de tudo, um fenômeno econômico, mas não tem igualmente um sentido político na medida em que coloca em causa a organização social do trabalho. Outros acontecimentos são políticos porque tem conseqüências políticas: a seca é um fato climático que coloca problemas econômicos com repercussões sociais e políticas. Outros acontecimentos, ainda, só são políticos na medida em que desviam os indivíduos dos problemas políticos, trazendo um exutório a suas frustrações sócios políticas: aposta em corrida de cavalos ou jogo de futebol, por exemplo. Finalmente, o sentido político de certos fatos é somente muito indireto: a bofetada é um ato repressivo, e  pode-se considerar que prepara a criança para a obediência social e política, mas sua significação política não é nem imediata e nem direta. A saturação em política e as modalidades de politização dos fenômenos sociais são, portanto, muito variáveis, apesar de todos, direta ou indiretamente, terem implicações políticas.. Não basta , portanto, afirmar que a educação é política. O verdadeiro problema é saber em que é política.” CHARLOT, Bernard. 1996.   
            Neste sentido,Charlot chama atenção para quatro aspectos que se articulam uns com os outros, e que no nosso entendimento, devem ser levados em consideração ao  se elaborar um projeto político pedagógico. São eles:
            a)A educação transmite os modelos sociais. Que modelos são estes? Comportamentos que prevalecem na sociedade, são modelos de trabalhos, de vida, de troca, de relações afetivas, religiosas, etc... Estes modelos são transmitidos, seja por contato direto com a sociedade, seja sob a forma de normas  teorizadas de comportamento. A sociedade não é um todo homogêneo vinculando modelos de comportamento que fazem a unanimidade de seus membros. A sociedade compreende grupos diferentes, perseguindo suas próprias finalidades, tendo uma organização  interna específica, e elaborando  modelos particulares de comportamento (grupos religiosos, culturais, sindicais, esportivos, políticos, etc..). Cada grupo social e cada classe social engendra comportamentos  que lhes são próprios e tido como ideais. O conflito social é o conflito de classes, portanto é uma luta entre classes-dominante e dominados. Política é a expressão, ao nível do poder de Estado e da luta  para conquistar esse poder, e dos conflitos profundos que agitam a sociedade global. A política exprime relações de forças, inclusive entre ideais opostos.
            b)A educação forma a personalidade.
            A educação é política porque forma a personalidade segundo normas que refletem as realidades sociais e políticas. Podemos verificar esta influencia na formação das pessoas no que se refere ao superego, na medida que estabelece barreiras de censura estabelecendo normas sociais.. Neste entendimento a educação é política  quando constrói  a personalidade a partir de bases psicológicas que têm uma significação política.
            c) A educação difunde idéias políticas.
A educação é política na medida em que transmite idéias políticas sobre a sociedade, a justiça, a  liberdade, a igualdade, etc.... A educação inculca na criança idéias de sociedade, padrões comportamentais que devem satisfazer esta mesma sociedade.
            d)A educação é encargo da escola, instituição social.
            A educação é política na medida que é encargo da escola, instituição social cuja organização e funcionamento dependem das relações de forças sociais e políticas. A escola é uma instituição educativa.A escola ensina a criança a controlar seus impulsos sexuais, agressivos, facilitando a sublimação e inculcando certas idéias., do certo e errado dos direitos e deveres. A escola por sua vez adota uma postura própria no trato com a educação e detém um sentido político. A escola neste sentido constitui-se em campo de luta de classes. A escola não pode furtar-se de seu papel político uma vez que ela propaga a educação e esta tem um sentido político. Depende a escola , quanto ao seu papel político, de muitas formas de sociedade, isto é ,quer de um grupo social (Igreja, municipalidade, partido político), quer de um poder de Estado, que exprime os interesses da classe dominante. A Educação, portanto,  possui um sentido político e é um fenômeno de classe social. È nesta direção que devemos, dentro da área da educação,  entender a questão política.
            O que se  entende por pedagógico? Compreende-se, que o pedagógico trata da ciência e teoria da educação e do  ensino. São as teorias, princípios que norteiam o processo ensino aprendizagem a ser ministrado. São as idéias, pensamentos, que regem o ensino. A teoria, deverá sempre ser respaldada  por uma prática vivenciada e concreta. Prática, que se torna “praxis” nas relações  que os sujeitos  sociais do ato educativo, estabelecem entre si. Todo o processo pedagógico implica em processos metodológicos, que têm por base uma teoria que orientam todo desenvolver do processo ensino aprendizagem.
             Por planejamento de ensino,  qual  a compreensão? O planejamento de ensino são procedimentos metodológicos, sistemáticos, integralizáveis, graduais, que são respaldados por uma teoria e com base em experiências vividas no passado, e vivenciadas no presente, projetam para o futuro, todas as ações pedagógicas a serem desenvolvidas por um sistema, por um curso ou por um estabelecimento de ensino com vistas  aos objetivos a alcançar.
            Por  participativo, o que se entende? Participação é compartilhar, dividir responsabilidades, influenciar nas decisões, contribuir na construção do processo pedagógico a ser elaborado e  executado não só com a ideologia dos pensamentos colocados, mas sobretudo, com a “praxis”a ser vivenciada, com os sujeitos sociais do ato educativo. Esta ação implica, numa convivência de pessoas que discutem, decidem, executam e avaliam atividades propostas coletivamente.
            Com estas considerações, onde procura-se fazer uma pontuação sobre os marcos teóricos-científicos, que norteiam o desenvolvimento do processo ensino aprendizagem em uma instituição ou em uma escola, ou em um curso, chama-se à atenção para a importância e o aprofundamento destes aspectos, que necessariamente, deverão orientar todo o projeto político pedagógico a ser encetado, pois é a partir destes entendimentos, que os critérios serão adotados  para se construir uma proposta pedagógica .

QUAIS OS PASSOS QUE DEVERÃO SER ADOTADOS PARA IMPLANTAÇÃO DE UM PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, A PARTIR DE UM PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO?

            Feitas as considerações preliminares, pode-se pensar em traçar um  plano estratégico de ações, que permitam a se  chegar aos objetivos  previamente  determinados para desenvolver o projeto político pedagógico, que se quer construir. A ação a ser desenvolvida, em sua essência, adota como pressuposto a participação de todos envolvidos no processo educativo. Quem, então, deverá participar? Os sujeitos sociais do ato educativo- o PROFESSOR, o ALUNO e a SOCIEDADE para que juntos possam traçar e definir que tendência pedagógica adotar. Qual? liberal ou progressista? Para esta definição promover-se-ão discussões com todos os seguimentos da comunidade escolar, pois só a ela cabe dizer que tipo de homem deve ser formado e que conhecimentos devem ser construídos em sua formação,  que a sociedade necessita. Com este procedimento, aproxima-se a escola da sociedade fazendo-a como mediadora entre o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem e as reais demandas da sociedade onde  a instituição encontra-se inserida. Neste sentido, a universidade tem embutida  em seus objetivos já, estratégias que dão margem real para promover esta vinculação, quando assegura que  seus objetivos maiores são: o ENSINO, a PESQUISA e a EXTENSÃO.  Feitas  estas colocações, procura-se delinear os passos a  seguir para construir um projeto político pedagógico, a partir de um planejamento, de fato, participativo? Vejamos as etapas relacionadas:
             a)Primeiro momento- realiza-se-á um estudo holístico das relações existentes entre a instituição e o contexto onde ela insere-se. Analisa-se os fatores determinantes e condicionantes, econômicos, sócio-culturais, políticos em diferentes níveis presentes nas relações escola e sociedade. Visa-se o interesse dos educandos para o qual, o projeto político pedagógico, está sendo construído.  Ao término deste estudo tem-se um diagnóstico da realidade concreta e contextualizada das verdadeiras demandas e interesses existentes. Concluído este estudo passa-se para a fase seguinte. 
             b) Diante do quadro constatado: Que objetivos políticos-sociais-técnicos-pedagógicos deverão ser adotados?  Isto implica dizer. Que homem eu quero formar? Para qual sociedade este homem está voltado? Neste momento, já deverão os participantes ter definido que tendência pedagógica adotarão, pois esta postura norteará todos os procedimentos metodológicos e epistemológicos a serem adotados na construção do projeto político pedagógico: Como será a escola e que papel desempenhará ? Que perfil de professor será priorizado? Como o aluno será visto? A relação professor aluno como acontecerá ? Que pressupostos científicos teórico-práticos deverão ser adotados no desenvolvimento do processo ensino aprendizagem? Quais os conteúdos a serem construídos? Que procedimentos metodológicos serão empregados? Estas questões, deverão ser analisadas por todos, estudadas,  aprofundadas e definidas coletivamente .Em um processo de ensino que se propõe transformador os objetivos estarão voltados para a aquisição, reelaboração e produção de conhecimentos o que implica em ações reflexivas críticas, curiosidade científica,  investigação e criatividade.
            c)Os conteúdos escolares fazem parte do currículo escolar, todavia deverão ser analisados e constatados o que é realmente estrutural básico essencial e o que representa como secundário a ser aprendido. Situação que deverá ser indicada pela realidade concreta existente. “Se os professores e alunos exercem o poder de produzir novos conhecimentos a partir dos conteúdos impostos pelos currículos escolares, estarão de fato consolidando seu poder de contribuir para a transformação da sociedade.” PAULO FREIRE (1987). Portanto, percebe-se que existe uma vinculação necessária entre os objetivos estabelecidos e os conteúdos a serem desenvolvidos.
            d) Com objetivos e conteúdos definidos, passa-se para articular que procedimentos metodológicos deverão ser adotados para concretizá-los e atender aos vários níveis da aprendizagem desejada? Que estratégias de ensino serão adotadas-métodos, técnicas e recursos de ensino necessários? Estas condições estão voltadas naturalmente, para o projeto de vida que possuem os alunos, núcleo do processo ensino aprendizagem.
            e) Organizados os procedimentos metodológicos, em seguida traça-se à sistematização do processo de avaliação da aprendizagem. Um projeto que visa e privilegia a construção do conhecimento e a criatividade dos alunos, a avaliação terá um caráter de acompanhamento desse processo. Não se prioriza quantidade mas, sobretudo, a qualidade da reelaboração e produção do conhecimento. Esta ação, por sua natureza, é contínua, dinâmica e holística. Com esta seqüência de ações delineadas, chega-se ao término dos momentos que deverão orientar o projeto político pedagógico a ser construído.

CONCLUSÃO

Diante do que foi exposto, pode-se chegar a diversas conclusões:
As ações a serem desenvolvidas em um sistema formal de ensino não podem ser realizadas de forma expontânea, passa, essencialmente, por uma ação sistemática, gradual. integralizadora e flexível de um planejamento concreto pedagógico, voltado para atender as demandas reais da sociedade. É intencional, por esta razão, faz-se necessário um projeto minucioso do processo de ensino que se quer ministrar.
-O projeto político pedagógico, com vistas a um  processo de compartilhamento social, não pode prescindir da participação de toda comunidade, numa visão globalizante, para que se atenda as concretas necessidades da sociedade. Enfatiza-se o compartilhar dos sujeitos sociais do ato educativo-o professor, o aluno e a sociedade, onde cada um tem bem definido o seu papel.
-O planejamento, nesta perspectiva, assume as dimensões: social- política, científica-técnica e humana em sua plenitude. A visão globalizante e integradora é considerada durante todo o tempo do desenvolvimento do projeto em todos os níveis, com a participação coletiva assegurada.
-O projeto, encontra-se devidamente instruído e  suas ações estratégias delineadas, prontas para serem realizadas, mas é o caminhar que irá determinando o fazer pedagógico. Portanto, não existe um projeto político cabalmente pronto, porque o dinamismo dos procedimentos metodológicos determina como as ações deverão ser executadas e  cada passo aperfeiçoado, de modo a atender os interesses dos sujeitos sociais do ato educativo. O projeto deverá passar por um processo contínuo de avaliação, com o fim de aprimorá-lo.
-O currículo nortear-se-á tomando por base os fatores determinantes e condicionantes: os princípios filosóficos a serem adotados na formação do homem, traduzido pela tendência pedagógica admitida.; os princípios legais, regulamentares e disciplinadores que regem os currículos os quais devem estar atualmente sob a égide da nova LDB(Lei 9.394, de 20 de Dezembro de 1996) ; os princípios sociais, que devem corresponder às verdadeiras demandas, no que concerne ao sistema de produção, mercado de trabalho e o projeto de vida, dos alunos, para os quais o processo é dirigido.
-O projeto implantado não esta pronto e acabado, mas deverá sofrer, ao longo do desenvolvimento, adaptações e correções através de avaliações constantes,  não só do projeto em si, mas de todo o desenvolvimento do processo ensino aprendizagem. Este projeto, conseqüentemente, será diferente de muitos outros, uma vez que se encontra respaldado pela comunidade escolar diretamente interessada, a qual é partícipe no desenvolvimento do processo ensino aprendizagem a ser construído.
Este é o nosso entendimento sobre o assunto.

BIBLIOGRAFIA

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‘CHARLOT,Bernard A mistificação Pedagógica.2 ed.Rio de Janeiro        Guanabara:2000.
WACHOWIEZ, Lilian Anna. O método dia dialético da didática. 2ed. Campinas,              SP: Papirus, 1999.
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AYUSTE, Ana et alli.  Planteamientos de la Pedagogía Crítica. Comunicar y Transformar Barcelona España. 2000.