É comum na área de
educação hoje em dia, ouvir-se falar sobre hiperatividade; na realidade, as
crianças pequenas apresentam características de desatenção e excesso de
agitação, mas quando estes sinais persistem após os cinco anos, é possível ser
um distúrbio chamado de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.
(TDAH).
O transtorno é de origem
genética e impede a criança de concentrar-se numa tarefa podendo resultar em um
déficit de atenção e em sérias dificuldades de aprendizagem.
CARACTERÍSTICAS E CAUSAS DO TDHA:
ROHDE & BENCZIC
(1999:39) caracterizaram o TDAH por dois grupos de sintomas: desatenção e
hiperatividade (agitação) e impulsividade.
No grupo de desatenção
as crianças com TDAH não conseguem prestar atenção a detalhes, cometem erros
por descuido, demonstram uma grande dificuldade para concentrar-se em tarefas e
ou jogos e por não conseguirem prestar atenção ao que lhes é dito, dão a impressão
de estarem no “mundo da lua”; além disso, dificilmente conseguem terminar algo
que começam a fazer, não conseguindo também seguir as regras e as instruções;
são desorganizadas com materiais e tarefas evitando atividades que são exigidas
um esforço mental maior; costumam perder coisas importantes facilmente e
distraem-se com coisas que não têm nenhuma relação com o que está sendo feito.
Como sintomas do grupo
de hiperatividade / impulsividade ROHDE & BENCZIC (1999) citam a incessante
movimentação que essas crianças fazem com as mãos e os pés quando estão
sentadas e das dificuldades em manterem-se sentadas por muito tempo; são
crianças que parecem ter uma sensação interna de inquietude e por isso chegam a
pular e a correr demasiadamente em situações inadequadas; ao jogar ou brincar,
são muito barulhentas, agitadas, falam demais, respondem às perguntas quase
sempre antes de terem sido terminadas, não suportam esperar a vez e
intrometem-se nas conversas e jogos dos outros constantemente.
Estudos comprovam que o
transtorno é causado por uma pequena disfunção cerebral que torna a pessoa
incapaz de pensar claramente, de ter um humor estável, de manter as fantasias e
impulsos sobre controle, de estar satisfatoriamente motivada na vida e de
regular essa energia na proporção correta, dentro da situação em que se
encontra. Além da falta de atenção, impulsividade, irritabilidade, intolerância
e frustração, os portadores de TDAH têm maior tendência à depressão e uso de
drogas e álcool.
Segundo TREDGOLD apud
LEWIS (1993), no ano de 1908, o termo “disfunção cerebral mínima”, foi
elaborado para classificar crianças que se mostravam impulsivas, desatentas e
hiperativas. Contudo, não foi comprovado seguramente esse dado em todas as
crianças com TDAH. Da mesma forma, foram acrescentados outros fatores como
possíveis causas do TDAH: anormalidades genéticas, lesão perinatal, infecções,
envenenamento por chumbo, traumatismo na cabeça, transtornos metabólicos,
transtorno dos neurotransmissores, problemas dietéticos e fatores psicossociais.
(LEWIS, 1993:387).
O PAPEL DO LÚDICO PARA A APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS COM TDHA NA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA:
A palavra lúdica, neste
texto, será utilizada para indicar o processo de jogar, brincar, representar e
dramatizar como condutas semelhantes à vida infantil.
Segundo VYGOTSKY (1988),
PIAGET (1990), WINNICOTTI (1971), o jogo está presente como um papel de fundamental
importância na educação, principalmente na educação infantil; no entanto,
CHATEAU (1987) adverte para que a educação não se limite somente ao jogo, pois
isso levaria o homem a viver num mundo ilusório e cita o jogo apenas como uma
preparação para o trabalho, exercício, propedêutica. (CHATEAU, 1987:155). Sua
teoria fundamenta-se nas relações mútuas entre jogo e trabalho; de acordo com o
autor, o jogar exige um esforço muito grande, e quase sempre tem como objetivo
cumprir uma tarefa; portanto, o jogo é um dever tanto quanto uma tarefa
escolar; e desta forma, o jogo passa a ter um caráter moral. Além disso, o jogo
e o trabalho possuem valores sociais. Jogando, a criança entra em contato com
outras crianças, passa a respeitar os diferentes pontos de vistas, e isso irá
favorecer a saída de seu egocentrismo original.
Em relação a esse
aspecto, CLAPARÈDE, apud CHATEAU, (1987), confirma que é preciso tomar muito
cuidado para que o jogo não se torne apenas um divertimento, desprezando essa
parte de orgulho e de grandeza humana que dá seu caráter próprio ao jogo
humano. (CHATEAU, 1987:124).
Conforme BROUGÈRE
(1998), o jogo nos dá a oportunidade de descobrir informações sobre o nosso
meio que contribuem para nossa visão de mundo, e para várias formas de
aprendizagens. (BROUGÈRE, 1998:190). Através dos jogos, são exercitados aspectos
físicos e mentais do indivíduo. Portanto, por que não aprender matemática,
leitura, escrita, de uma forma prazerosa, interativa, em que trocamos pontos de
vista, conhecemos melhor o outro, convivemos de uma maneira harmoniosa e feliz?
Por mais que haja desgaste físico, algumas frustrações, o prazer que sentimos
ao jogar, ao brincar, é imensurável.
O jogo chega a ser
considerado por FREUD apud BOSSA, 2000 como uma atividade criativa e curativa,
pois permite à criança (re) viver ativamente as situações dolorosas que viveu
passivamente, modificando os enlaces dolorosos e ensaiando na brincadeira as
suas expectativas da realidade.(BOSSA, 200:111).
O prazer moral
proporcionado pelo jogo deverá ser transposto para a educação, calcada na
atividade espontânea do jogo. A criança precisa superar obstáculos, precisa
querer superá-los. De acordo com CHATEAU (1987), a verdadeira alegria, a
alegria humana, é aquela que se obtém num triunfo sobre si, num domínio de si.
Por mais cansativo que seja o jogo, o prazer da vitória é gratificante.
(CHATEAU, 1987:128).
Como tão bem observou
FERNÁNDEZ (2001) Brincando descobre-se à riqueza da linguagem; aprendendo,
vamos apropriando-nos dela. Brincando inventamos novas histórias; o aprendizado
permite historiar-nos, ser nossos próprios biógrafos. Jogar é pôr a galopar as
palavras, as mãos e os sonhos. (FERNÁNDEZ, 2001:36).
Para MAIA, (1993), o
jogo está presente nas mais diversas fases e atividades da vida humana,
englobando desde o desenvolvimento físico, psicomotor e cognitivo até o afetivo
e social. (MAIA, 1993:36).
Felizmente, a
psicopedagogia surgiu para comprovar que é possível minimizar, as dificuldades
de aprendizagem, através de intervenções em que sejam utilizadas atividades
lúdicas.
Fonte: www.jogandobrincando.blogspot.com