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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Visão de leitores sobre: Ensinar a linguagem escrita e Não apenas a escrita das letras!


Paulo Freire-
O processo de descoberta do código escrito pela criança letrada é, através da mediação pelas significações que os diversos tipos de discursos têm para ela, ampliando seu campo de leitura através da alfabetização. Antigamente, acreditava-se que a criança era iniciada no mundo da leitura somente ao ser alfabetizada, pensamento este ultrapassado pela concepção de letramento, que leva em conta toda a experiência com leitura que a criança tem, antes mesmo de ser capaz de ler os signos escritos. O nível de letramento é determinante de uma boa alfabetização, sem grandes entraves e conflitos, portanto a criança precisa, antes de qualquer método eficaz de alfabetização, de uma bagagem rica em variedade de discursos nos mais variados gêneros. Sendo assim, o letramento decorre das práticas sociais que leituras e escritas exigem nos diferentes contextos que envolvem a compreensão e expressão lógica e verbal.
FREIRE, afirma que "na verdade, o domínio sobre os signos lingüísticos escritos, mesmo pela criança que se alfabetiza, pressupõe uma experiência social que o precede – a da 'leitura' do mundo, o que passa por um momentos históricos com paradoxos envolvendo tanto a criança como o adulto, que em sua maioria, é alfabetizado, mas não é letrado. Lê o que está escrito, mas não consegue compreender, interpretar o que leu e isso faz deste indivíduo, alguém com muitas limitações, pois se ele não interpreta ou compreende corretamente, tendo assim, problemas em todas as disciplinas que fazem parte do seu currículo escolar. De acordo com Paulo Freire ;

[...] o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem mas sabem que sabem. (1989, p. 58-9)

E através de incentivos variados, no que diz respeito à leitura de diversos genêros textuais e também utilizando-se de exercícios de interpretação e compreensão destes diferentes tipos de textos, bem como nas metodologias e estratégias adotadas. Portanto, mais importante que decodificar símbolos (letras e palavras), é preciso compreender a funcionalidade da língua escrita, pois é assim que o cidadão torna-se mais atuante, participativo e autônomo, de forma significativa na sociedade na qual este está inserido.

Roxane Helena Rodrigues Rojo – Adotar uma visão socioconstrutivista da construção do letramento e da linguagem escrita significa, entre outras coisas, repensar as relações entre as modalidades oral e escrita do discurso neste processo. Significa também afirmar o papel construtivo da interação social para a construção da linguagem (letrada) e, logo, para os usos e conhecimentos do objeto escrito construídos pela criança. Onde baseados na teoria de Vygotsky. Segundo Rojo, incorporam, quatro pontos fundamentais para a elaboração de intervenções pedagógicas. Sugerem uma complexa fixação dos gêneros que utilizamos para organizar um currículo numa progressão discursiva. Onde, todos os tipos de texto (narrativos, expositivos, argumentativos) devem ser construídos das suas formas concretas (gêneros) mais primitivas e simples.
1. A escrita construída em interação com a criança deve ser motivada: relevante para a vida, necessária para a atividade em curso, desejada pela criança;
2. A escrita construída em interação com a criança deve ser uma prática, um uso significativo de leitura e produção de textos, mais do que um ensino ou uma técnica;
3. Como tal, ela deve constituir-se como discurso (texto) significativo, inserido numa situação de produção significativa, formatado num gênero, ao invés de manipular letras, sons e palavras;
4. Os diversos discursos escritos (gêneros) construídos em interação com a criança devem ser pensados em sua transição, num processo contínuo de construção social.

[...] A escrita deve ser relevante à vida [...] deve ter significado para as crianças, uma necessidade intrínseca deve ser despertada nelas e a escrita deve ser incorporada a uma tarefa necessária e relevante para a vida. Só então poderemos estar certos de que ela se desenvolverá não como um hábito de mão e dedos, mas como uma forma nova e complexa de linguagem. (VYGOTSKY, 1935, p.133).

Seguidos de dois novos pontos também fundamentais: A socioconstrução dos diversos modos de discurso escrito (gêneros), negociada na interação, deve sempre ser informada por uma situação de produção clara, explícita e, se possível, real ou realista. E a socioconstrução negociada na interação, a qual deve levar em conta diferentes tipos de discurso e organizar-se dos gêneros mais simples para os mais complexos.

Angela Kleiman- Para ela o letramento nada mais é que um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos.(1995, p. 81). Ainda, segundo a autora, inicialmente os estudos sobre letramento enfocam-no a partir do século XVI, no momento em que a escrita passou a ser introduzida e determinantemente exigida nas sociedades industrializadas de forma mais significativa, transformando, as relações entre os indivíduos e o meio em que vivem. Daí, então, o letramento tornou-se uma preocupação. Pois cabia a esta nova metodologia examinar a expansão da sociedade que, de certa forma, acompanhou a introdução e o desenvolvimento dos usos da escrita.

Considera que a leitura e a escrita fazem parte de atividades sociais, tais como ler um manual ou pagar contas. Daí a importância de se encarar a leitura e a escrita não só como atividades com um fim em si mesmas (como propõe o modelo autônomo de letramento), mas como atividades que servem a um propósito. Analisar esse propósito deve ser parte de um modelo mais eficaz de letramento. KLEIMAN, (1995)

Na realidade, esse desenvolvimento social ocorreu em função de vários marcos históricos e sociais, os quais, fizeram com que a escrita ganhasse importância cada vez mais acelerada na sociedade. Ela aponta como falhas do modelo autônomo de letramento o determinismo tecnológico (uma crença segundo a qual o progresso social deriva de desenvolvimentos tecnológicos específicos, tais como: a imprensa escrita, a televisão ou atualmente a computação e tecnologia da informação), a indiferença às variações culturais, o fato de ser sumamente economicista e de ser etnocêntrico (uma visão do mundo onde o “nosso grupo” é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos próprios valores e nossas definições do que é existência). Contudo, todos esses fatores desqualificam o modelo autônomo por ser discriminatório contra o “iletrado” e por ser baseado em textos escritos em detrimento da oralidade.
KLEIMAN, (1995) considera que a leitura e a escrita fazem parte de atividades sociais, tais como ler um manual ou pagar contas. Daí a importância de se encarar a leitura e a escrita não só como atividades com um fim em si mesmas (como propõe o modelo autônomo de letramento), mas como atividades que servem a um propósito. Analisar esse propósito deve ser parte de um modelo mais eficaz de letramento.


Fonte de leitura:
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados, 1989.
KLEIMAN, A. B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: KLEIMAN, A. B. (Org.). Os significados do letramento: uma perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995.
VYGOTSKY, L.S A Formação Social da Mente; O desenvolvimento dos Processos psicológicos superiores, São Paulo, Martins Fontes, 1994.